Texto e fotos: Jeferson Saldanha Ramos (jornalista)
No dia 02 de outubro de 2012, alunos do 2º Ano do Ensino Médio da IENH realizaram uma visita guiada pela obra do Residencial Piazza San Marco. A visita faz parte da VII CIARTEC – semana das ciências, Artes e Tecnologia – que tem como objetivo promover e integrar projetos em diversas áreas.
No local, equipados de capacetes – item obrigatório em qualquer empreendimento desta dimensão – os estudantes foram recepcionados pela engenheira Bianca Andrade, que apresentou a história e desenvolvimento do projeto do prédio, sobretudo os preceitos que contribuem para a preservação do meio ambiente visando a sustentabilidade.
Na Casa Alles/Fischer – que está sendo restaurada para servir como centro de convivência e lazer – a restauração e preservação da estrutura da Casa construída originalmente nos anos 1940 foi lembrada. Além disso, a atenção dada ao reaproveitamento da água da chuva e da madeira das arvores derrubadas que serão reutilizadas na forma de móveis no local também foram lembradas como características de uma nova visão que os arquitetos e engenheiros vão aderindo cada vez mais às obras: a Arquitetura Verde, que tem como objetivo manter e preservar o que já existe, contribuindo para o bem viver dos futuros moradores do empreendimento.
De acordo com a professora Rosália de Mello, a experiência dos alunos da disciplina de Educação Financeira foi muito interessante. “Em nosso currículo, o tema sustentabilidade é sempre explorado e esta visita guiada, promovida pela parceria IENH e Athivabrasil contribui para a vida dos estudantes”. A professora ainda ressalta a importância que cada vez mais o jovem dá aos princípios sustentáveis. “A questão da preocupação para com o meio ambiente no lugar em que irão morar um dia, certamente será mais um fator determinante na escolha do imóvel”.
Dizem que os edifícios projetados pelo arquiteto alemão radicado nos EUA Mies van der Rohe, sendo ou não bem sucedidos, são sempre uma afirmação sobre o mundo e nunca simplesmente uma afirmação sobre si mesmo. Este talvez seja um dos principais motivos de sua inegável influência sobre a arquitetura mundial.
No ano de 1945, a física Edit Farnsworth encomenda a Mies van der Rohe uma residência de final de semana, que viria a ser construída em uma das suas propriedades localizada próxima a cidade de Chicago.
O desenho do projeto revela de forma sublime o resultado prático de um dos mais famosos lemas do arquiteto, “menos é mais”. Construída sobre oito colunas de aço, a casa parece flutuar sobre o terreno, resultando em um volume extremamente puro e leve. Porém, antes de ser visto como um capricho do autor, a elevação do edifício se fez necessária devido aos períodos em que o rio transborda, alagando grande parte da propriedade.
O edifício se organiza a partir de duas plataformas retangulares que, dispostas em níveis distintos, distribuem todo o programa residencial. Seu perímetro construído com painéis de vidro do piso ao teto expande o espaço interno em direção ao exterior.
A partir da comunhão desta profunda horizontalidade com a transparência absoluta, o espaço residencial flui de forma excepcional, compondo com a natureza um conjunto perfeitamente equilibrado. Os recursos mínimos, porém não menos complexos, são um dos principais motivos desta arquitetura.
Em resumo, desde uma perspectiva geral, poderíamos nos referir a casa Farnsworth como uma caixa retangular de vidro suspensa por uma superfície plana, idêntica a que lhe serve de cobertura.
Construída a mais de cinqüenta anos, a casa Farnsworth continua servindo de exemplo para inúmeros arquitetos de todo o mundo.
Autor: Rafael Spindler
O Arquiteto Rafael Spindler também é responsável pelo projeto racional, que incorpora alta tecnologia visando a sustentabilidade, o Residencial Piazza San Marco que estabelece um novo conceito de morar, onde, entre tantas outras coisas, a integração entre o passado e o presente determinam um ambiente inspirador.
Sempre afirmo que a arquitetura deveria ser uma resposta lógica a um problema específico de determinado local. Isto significa que a forma de uma edificação deixa de ser um simples componente do projeto para adquirir um caráter mais profundo, sintetizando no seu desenho o programa, a técnica e o lugar.
Assim, na medida em que cada projeto passa a ser uma reação determinada por regras distintas, pois distintos são os lugares, técnicas construtivas e programas, o resultado sempre será único, mesmo que apresente características similares a outros edifícios.
Para ilustrar meu raciocínio dou como exemplos o edifício da Loja Forma em São Paulo, projeto do arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha e o Museu Guggenheim de Bilbao, projetado pelo arquiteto canadense naturalizado americano Frank Gehry.
Construída em 1987, a Loja Forma apresenta uma geometria extremamente elementar, onde sua intensidade formal consegue atrair a atenção daquele que por ali passa sem ter que recorrer a formalismos inconseqüentes. Elevada do solo de modo a permitir que se estacione sob ele, o corpo do edifício apresenta um número reduzido de elementos na medida em que está localizado em uma avenida repleta de edificações de todas as formas e cores possíveis, que apenas materializam o caos existente do lugar. Junto à fachada frontal, surge uma única vitrine que, elevada e ocupando toda a largura do edifício, facilita sua visualização pelos que passam de carro em alta velocidade. Ao optar pela simplicidade construtiva/formal, considero o edifício de Paulo Mendes da Rocha um dos projetos mais importantes dos últimos 20 anos no Brasil.
Aberto em 1997, o Museu Guggenheim foi fruto de um concurso instituído com o intuito de revitalizar não somente a área adjacente ao edifício, mas toda a cidade de Bilbao, que passava por uma grande crise econômica. Neste sentido, a construção do museu deveria ter a capacidade de estabelecer uma ponte entre o turista e a cidade, de forma a aquecer sua economia. Vencido pelo arquiteto Frank Gehry, o edifício apresenta formas extremamente curiosas que criam um grande contraste com o entorno próximo. Sem nos determos aos pormenores da obra, podemos verificar uma certa validade no projeto de Gehry, pois mesmo dotada de uma geometria complicada acabou configurando um objeto pertinente em relação ao problema imposto pelo lugar, manipulando a forma de modo a relacioná-la com as condições que lhe deram origem.
Sem buscar algum tipo de comparação entre as obras, pois particularmente acho o projeto da Loja Forma de uma qualidade e um refinamento incomparável, podemos afirmar que ambos edifícios são estruturados a partir da busca por uma forte intensidade formal que os destaquem em relação ao lugar onde estão inseridos. Enquanto um opta pela simplicidade formal de modo a ter uma maior legibilidade em um meio urbano dotado de um excesso de formas e estímulos visuais, o outro busca exatamente o contrário, adotando uma forma insólita onde a lógica visual seja estabelecer um contraste com o território existente.
Autor: Rafael Spindler
O Arquiteto Rafael Spindler também é responsável pelo projeto racional, que incorpora alta tecnologia visando a sustentabilidade, o Residencial Piazza San Marco que estabelece um novo conceito de morar, onde, entre tantas outras coisas, a integração entre o passado e o presente determinam um ambiente inspirador.
A historiografia recente mostra que o desenvolvimento da arquitetura no Brasil está estruturado basicamente a partir da importação sistemática de um repertório de projetos construídos no hemisfério norte. Esta característica faz com que o mercado gere uma constante expectativa em relação à produção estrangeira, com o objetivo de obter uma coleção de modelos para a produção nacional.
Então fica a questão: Ao copiarmos estes exemplos, obteríamos o mesmo sucesso encontrado com os edifícios dos países Europeus?
É evidente que não. E isto pode ser explicado simplesmente pelo fato de que cada elemento proposto é o resultados de profundas e específicas reflexões ante os problemas encontrados apenas no lugar em que foram projetados. Ao reproduzir estes objetos em condições distintas, estaremos desrespeitando as características de cada cidade, criando uma arquitetura artificial e sem nenhum vínculo com o lugar.
Isto não quer dizer que não devemos analisar o que se concebe fora de nosso país, mas sim, que tenhamos uma grande capacidade de discernimento perante o mercado internacional, de modo a reinterpretar os resultados de acordo com as necessidades de nosso território.
É importante entender que o objetivo da arquitetura não é a busca pelo inovador ou o insólito. Estas características geralmente resultam em edificações confusas, que somente alimentam o caos contemporâneo encontrado nas cidades brasileiras.
Buscar inspiração em outras arquiteturas não deve resultar na cópia da mesma, mas sim, na eleição dos critérios que obtiveram êxito neste contexto, tomando-os como base para a criação de novos edifícios.
Antes de copiarmos a forma, devemos reproduzir os princípios.
Um excelente exemplo de reinterpretação é o projeto do MASP de autoria da arquiteta italiana radicada no Brasil, Lina Bo Bardi. Sua estrutura formal, resultado da exteriorização dos elementos de apoio em benefício da criação de um espaço interno totalmente livre, pode muito bem ter sido derivado do projeto do Crown Hall para a cidade de Chicago, uma das obras primas do arquiteto alemão radicado nos EUA, Mies van der Rohe.
Autor: Rafael Spindler
O Arquiteto Rafael Spindler também é responsável pelo projeto racional, que incorpora alta tecnologia visando a sustentabilidade, o Residencial Piazza San Marco que estabelece um novo conceito de morar, onde, entre tantas outras coisas, a integração entre o passado e o presente determinam um ambiente inspirador.