Colecionador faz de sua mansão um museu para quem quiser conhecê-la

Quando Howard Rachofsky se casou e teve de mudar de endereço em 2003, ele achou por bem abrir as portas da sua casa em Austin, nos EUA, para quem quisesse conhecê-la. Desde os primeiros traços feitos dez anos antes por Richard Meier, a morada incentiva a contemplação: tanto da arquitetura majestosa de três andares e 10 mil m² quanto das centenas de peças de arte reunidas pelo milionário.

Sem cobrar ingresso, ele transformou os 32 mil m² do terreno na capital do Texas em um museu que proporciona um passeio curto, porém, profícuo, pela história recente da arte americana. Seu acervo conta com 700 obras, expostas dentro e fora da casa, que começam na vanguarda dos anos 1930 e caminham sem pressa até o site specific.

No jardim, a instalação de Robert Irwin (Titled Planes of Grass and Steel) repuxa o gramado verde em planos com pontas ocres, enquanto a escultura geométrica de Liz Larner (2 as 3 And Some Too…) brinca com o movimento e as formas à beira da piscina. A “curadoria” de Rachofsky foi tão cuidadosa que até os locais para plantar dois carvalhos e arbustos foram estudados com afinco – as árvores frondosas estão ao fundo para oferecer textura e volumetria ao exterior, e os arbustos cercam a propriedade com um contorno geométrico em diálogo com as formas da construção.


A escala arquitetônica cria um debate do que é domínio público e privado ao facilitar o cortejo do exterior para o interior, e vice-versa, além de reunir a estrutura ao natural sem ruídos. Sem contar que a pureza do desenho de Meier, ganhador do Pritzker em 1984, impressiona. De um lado, avista-se um volume limpo e branco, do outro, ângulos avançam na perspectiva, e, no fundo, a transparência do vidro capta os movimentos. As aberturas aparecem tanto no sentido vertical, acompanhando a escada caracol que dá acesso à área privada, quanto no horizontal, que entrega todos os andares à vista do horizonte.

Os interiores, ainda organizados em área restrita (como o quarto, no segundo andar, e o ginásio e o escritório no topo) e pública (no térreo, a galeria engloba a sala de jantar, o living e a cozinha), têm uma decoração P&B primorosa, cujo destaque são as linhas retas e modernas do conjunto de sala Barcelona, de Mies van der Rohe, e da poltrona LC3, de Le Corbusier.